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Os Meninos Emasculados de Altamira

  • Foto do escritor: VOBISCUM
    VOBISCUM
  • 6 de out. de 2022
  • 5 min de leitura

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Seguimos em frente apresentando casos cujo termo Satanismo é errôneamente mencionado (e cruelmente exposto e deformado!) e desta vez, o foco vai ser o caso que ficou conhecido como Os Meninos Emasculados de Altamira.


O caso


Os crimes do caso Os Meninos Emasculados de Altamira aconteceram entre os anos de 1989 e 1992 na cidade de Altamira, no sul do Pará. A princípio, era uma série de sequestros de meninos entre 8 e 14 anos, mas logo desandou para algo maior e ainda mais macabro: os corpos dessas crianças começaram a ser encontrados mutilados, principalmente na região das genitais. Em alguns casos, também havia sinais de tortura, violência sexual e remoção de órgãos.


Ao todo, foram seis crianças mortas nessas condições brutais e outras cinco seguem desaparecidas até hoje. Além disso, três meninos sobreviveram a esses ataques, apesar de também terem sido emasculados — ou seja, castrados. Os relatos sobre as condições em que esses garotos foram encontrados são chocantes.


Todos esses fatos chocaram o Brasil e o caso segue sendo considerado um dos mais bárbaros do país, tendo inclusive repercussão internacional. O problema é que, apesar de todas as atenções estarem voltadas para o município que, na época, tinha pouco mais de 65 mil habitantes, as investigações pareciam não sair do lugar.


Uma das primeiras hipóteses levantadas pela polícia do Pará, em 1990, era de que os crimes foram cometidos por um morador de rua (mas é lógico!) que vivia na cidade. Rotílio de Souza foi reconhecido por duas das crianças que sobreviveram ao ataque e acabou preso. Apelidado de “o Monstro de Altamira”, ele morreu pouco tempo depois na delegacia da cidade em condições consideradas misteriosas até hoje — ele estava sozinho dentro da sua cela e não havia indícios de que se tratava de suicídio.

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O problema é que, mesmo após a prisão e a morte de Rotílio, mais crianças voltaram a ser emasculadas em Altamira, o que forçou a polícia a seguir outra linha de investigação. Desta vez, as suspeitas seguiram para uma suposta organização de tráfico de órgãos de crianças, uma teoria que ganhou força principalmente pela forma com que os corpos eram encontrados, com cortes aparentemente precisos e, em alguns casos, a remoção de órgãos, como os olhos.


Por causa disso, suspeitou-se de que dois médicos que haviam se mudado há pouco tempo para a cidade de Altamira — Césio Brandão e Anísio Ferreira de Sousa — e poderiam estar relacionados aos crimes. Eles chegaram a ser detidos e a prestar depoimentos, mas tudo foi considerado inconclusivo e, sem provas, o processo acabou sendo deixado de lado por um tempo.


Isso até que a velha hipótese de ritual de "magia negra" surgiu...


A seita LUS (Lineamento Universal Superior)


O caso dos meninos de Altamira seguiu sem grandes avanços por algum tempo até que, em 1993, ele foi reaberto após a polícia passar a investigar uma suposta seita satânica que estaria atuando no país.


Diante da brutalidade dos crimes, seu modus operandi e o perfil das vítimas, a possibilidade das mortes e mutilações estarem relacionadas a um possível ritual de magia negra começou a ser cogitado — principalmente porque, um ano antes, havia estourado o próprio caso Evandro, no Paraná, em que sete pessoas foram acusadas disso em um assassinato em condições bem semelhantes.

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E é aí que entra o Lineamento Universal Superior, ou apenas LUS. Tratava-se de um grupo esotérico fundado pela paranaense Valentina de Andrade e que misturava elementos místicos com Ufologia (algo que era bem comum em movimentos New Age da década de 1970 e 1980), com um número relativamente pequeno de adeptos no Brasil.


Na época, testemunhas afirmaram que os dois médicos que haviam sido investigados anteriormente por tráfico de órgãos faziam parte desse grupo e que o assassinato das crianças estava relacionado a algum tipo de ritual macabro da seita. A teoria ganhou força quando as investigações chegaram a um livro escrito por Valentina, chamado "Deus, a Grande Farsa", em que ela apontava as crianças como algo maligno. Além disso, imagens de uma suposta reunião do grupo mostram um homem dizendo “matem as criancinhas...”, mas segundo algumas pessoas, ele diz “mas tem as criancinhas...”.


Baseado nestes indícios e sem possuir outras linhas de investigação, o delegado Éder Mauro encerrou o caso e concluiu (como lhe convém!) que os assassinatos teriam sido cometidos por participantes da seita, durante "rituais de satanismo e magia negra". O indiciamento encaminhado ao ministério público baseou-se apenas em dados colhidos em inquéritos anteriores e no depoimento de testemunhas. De acordo com os investigadores, Agostinho José da Costa, de 74 anos, teria visto o médico Césio Brandão na rodovia Transamazônica portando uma caixa de isopor e um facão sujo de sangue. Ainda segundo a investigação, outra testemunha, de nome Edmilson da Silva Frazão, teria assistido um "culto satânico" na casa de Anísio Ferreira de Souza em 1991, onde também teria visto Valentina de Andrade. Ao todo, a investigação indiciou 7 pessoas por ter, supostamente, participação nos crimes.


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  • Anísio Ferreira de Sousa; Médico. Espírita. Acusado de realizar as castrações. Testemunhas o teriam visto realizando orações ao "deus das trevas". De acordo com a polícia, para não levantar suspeitas, o médico atendia moradores da região a preços populares. Também atendia gratuitamente albergados e presidiários, além de fazer campanhas para arrecadação de donativos para ajudar famílias carentes.


  • Césio Brandão; Médico. Indiciado com base no depoimento de testemunhas. Também seria quem realizava as castrações. Teve prisão temporária decretada em 9 de julho de 1993, convertida posteriormente em preventiva. Permaneceu dois anos preso em Belém até conseguir um habeas corpus para aguardar o julgamento em liberdade.


  • Amaílton Madeira Gomes; Herdeiro de fazendas e postos de combustível. Homossexual. De acordo com as investigações, era quem atraia e violentava os meninos. Testemunhas o teriam visto com a camisa suja de sangue após o desaparecimento de uma das vítimas.


  • Carlos Alberto Santos Lima; Policial militar. Trabalhava como vigilante em um posto de combustíveis pertencente a Amaílton Madeira Gomes. De acordo com os investigadores, teria confessado fazer parte do suposto grupo criminoso.


  • Aldenor Ferreira Cardoso; Policial militar. Acusado de fazer a segurança do grupo criminoso.


  • José Amadeus Gomes; Pai de Amaílton Madeira Gomes. Acusado de ser o mandante dos assassinatos supostamente praticados pelos médicos. De acordo com a polícia, praticava os rituais para obter ganhos financeiros.


  • Valentina de Andrade; Indiciada como líder da seita e mentora intelectual dos homicídios.


Entre os indiciados, apenas José Amadeus Gomes e Valentina de Andrade não tiveram prisão preventiva decretada e puderam aguardar o julgamento em liberdade. A investigação policial apresentou diversas falhas. Não foram feitas autópsias nos cadáveres ou perícias nos locais onde as vítimas eram encontradas. Além disto, não foram apresentadas provas contra os indiciados. No entanto, em 6 de setembro de 1993 o indiciamento foi aceito pelo Ministério Público. A denúncia foi encaminhada ao judiciário onde foi aceita pelo juiz Orlando Arrifano. A partir de então, iniciou-se o processo judicial contra os acusados.


Devido a natureza da denúncia, o processo judicial contra os sete réus foi encaminhado ao Tribunal do júri. A constituição brasileira estabelece que compete a este tribunal o julgamento de processos que envolvam crimes dolosos contra vida. Porém, para alcançar a fase de julgamento, a legislação define que a denúncia precisa ser aprovada na chamada fase de instrução, onde o alvo de julgamento não é a parte acusada e sim a estrutura probatória da acusação.


Resumindo, em 22 de agosto de 1995, a Primeira Câmara do tribunal de justiça estadual decidiu revogar a prisão preventiva do médico Césio Brandão que estava a mais de dois anos detido em Belém. Após a decisão, Césio Brandão declarou sua intenção de processar o Estado alegando ter sido usado como "bode expiatório" por autoridades para esconder diversas falhas no processo de investigação. Em 12 de setembro do mesmo ano, os demais acusados também conseguiram a liberdade, seguindo a mesma linha dos advogados de Césio.


O crime segue até hoje sem solução...apenas mais um "pânico satânico" made in brazil.

 
 
 

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✠In Nomine Dei Nostri Satanas Luciferi Excelsi✠

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