A visão sobre o MAL na Qabalah
- VOBISCUM

- 19 de mar. de 2020
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Qual é então a visão sobre o mal na Qabalah? Deixe-nos inicialmente retornar àquelas diferentes visões que eu sugeri no princípio e compará-las com as visõe sobre o mal pelos qabalistas.
O MAL POSITIVO: Ao que parece, ao menos os qabalistas concordam que o mal existe, se exclusivamente como um potencial em Deus. Somente através dos pecados do homem é este mal realizado. Uma maioria dos qabalistas veem o mal como uma qualidade de Deus, mas uma qualidade que não é de facto mal quando em harmonia com outros aspectos. O mal é o aspecto limitativo e punitivo de Deus, expressado na Sephira Geburah ou Din. A questão é se o mal é, conquanto que ele exista dentro da unidade de Deus. De qualquer modo, esta é uma qualidade que existe e pode ser categorizada como mal positivo. Além do mais, o mal é algumas vezes interpretado como uma entidade independente: Satã ou Samael, que corresponde à Geburah e somente se torna realmente mal quando libertando-se da ordem de Deus. Do ponto de vista da humanidade é, entretanto, incerto qual é a diferença quando Satã está feroz com a permissão de Deus, ou quando ele fica assim sozinho. A resposta dos qabalistas a isto é que Deus pune o pecado, e desta forma garante a ordem original da Criação. As especulações sobre a luz não pensante do Ain Soph radicalizam o mal. É uma força tão forte quanto o Criador, mas que se opõe à Criação. Esta força não é inerentemente má, mas apenas deseja permanecer dentro dela mesma. Da perspectiva da Criação, esta força aparece como o mal absoluto que cria os anti-mundos malignos no 'Outro Lado' (a Sitra Ahra).
O MAL NEGATIVO: O saber das emanações fariam factíveis ver as tendências do mal existindo negativamente. O mal é ocasionalmente explicado na última corrente da Criação e a raiz do mal é traçada à última Sephira, Malkuth. O homem dá vida a este mal negligenciando o bem positivo de Deus acima e afastando-se de Deus para, ao invés disso, viver no pecado. Não obstante, os qabalistas parecem ter momentos ruins evitando atribuir nomes e qualidades ao mal.
O MAL NECESSÁRIO: O pensamento do mal necessário parece caracterizar especulações qabalísticas. O lado punitivo de Deus é um mal necessário que retifica a Criação. Quando este aspecto se torna muito poderoso e independente, funciona como uma forma de Inferno, que pune o pecador; este lado também ganha independência através dos pecados e atos não-íntegros do homem. Nas teorias dos mundos destruídos por Isaac ha-Cohen, nós podemos ler que o mal e a iniqüidade são requeridos se o homem é capaz de escolher o bem e o íntegro por sua própria vontade.
MAL DESNECESSÁRIO: Geralmente, o mal sempre tem algum tipo de função na Qabalah, implicando que os qabalistas viam o mal como, se nada mais, um produto gasto sem significado, como os excrementos da Criação, rejeitados no nascimento do mundo.
A VISÃO DUALÍSTICA: O pensamento mais comum na Qabalah é que o mal originalmente existia como um potencial dentro da unidade de Deus mas, por diferentes razões, rompeu-se e se tornou um princípio independente. Desta maneira, uma visão monística é unida com uma visão dualística. Mas em alguns exemplos, o mal originalmente tem uma existência independente, como Satanás ou Samael, exceto aquelas obras de acordo com a vontade de Deus. A polaridade entre Chesed e Geburah e entre a Sitra de-Kedusha e a Sitra Ahra sugere uma forte visão dualística na Qabalah. O Rabi Isaac ha-Cohen é um dos qabalistas que prega uma visão de mundo dualística. Ele foca-se em casais se opondo como Lilith e Samael sendo uma visão obscura de Adão e Eva. O estudante qabalista Joseph Dan escreve:
"O conceito do Rabi Isaac de dois sistemas de emanações divinas, similares em muitos detalhes, mas um do bem e outro do mal, não era uma ideia exclusiva, mas uma parte íntegra de uma visão de mundo mitológica que sentia que toda a existência era governada por um antagonismo entre pares de estrutura similar e conteúdo conflitante. O pensamento exposto por Shabbatai Zwi e Nathan de Gaza declarando que uma dupla natureza já existia no Ain Soph é talvez a ideia mais extrema argumentando contra um ponto de vista dualístico."
O MODO MONÍSTICO: Embora exista uma polaridade entre o bem e o mal, isto parece acontecer dentro da unidade de Deus, de acordo com certos qabalistas. A Sitra Ahra e as Qliphoth são comparadas à Geburah e o lado punitivo de Deus, enquanto que o mal permanece dentro de um sistema sancionado por Deus, e consequentemente, Deus permanece sendo a fonte do mal. Esta visão parece ser comum quando os atos do homem são responsáveis pela existência do mal. Se o homem peca, o mal se ergue como uma consequência. O mal é uma parte do ser de Deus e da Criação. Uma visão monística e uma dualística são unidas desta maneira, ou como explicado por Scholem:
"Enquanto o bem e o mal devam de fato ter uma fundação metafísica na natureza da atividade de Deus como o Criador, é somente ser potencial e não existência real; eles somente se tornam reais através da ação e escolha humana."
O MAL COMO MATÉRIA: Às vezes os qabalistas parecem ver o mal como a última e mais imperfeita parte da Criação. O mal é o equivalente do mundo material grosseiro que se soma às conchas sem conteúdo espiritual. As Qliphoth são matéria sem espírito, e o mal é puramente negativo em relação aos atributos positivos de Deus. Os qabalistas descrevem como Adão recebeu um corpo material através de seus atos erronêos que, como resultado, conduziu a uma mistura do mundo mais baixo, Assiah, e das Qliphoth. Entre muitos escritores qabalistas, entretanto, o mal tem uma existência positiva que já existe como um princípio espiritual. A matéria deve ser o resultado do mal, mas não o mal em si.
O MAL COMO UM PRINCÍPIO ESPIRITUAL: A raiz do mal pode ser encontrada dentro de Deus e da Criação, mas como um princípio ou potencial demarcador necessário. Muito qabalistas parecem concordar que o mal já exista num nível espiritual.
O MAL PESSOAL: A maioria dos Qabalistas assume que o mal tem um real representante em Satanás, Samael, Lilith ou outros seres demoníacos.
O MAL IMPESSOAL: Há também uma tendência a ver o mal como conchas impessoais que ganham vida através dos atos pecaminosos do homem, e ao que parece, a Qabalah especulativa adota uma atitude filosófica concernente à natureza do mal e descreve-a uma natureza mais impessoal, enquanto a Qabalah prática é baseada em uma visão de mundo mágica em que demônios existem como entidades pessoais.
O MAL COMPLEMENTAR: O mal parece ter uma função complementar em relação ao bem, de uma visão monística. Geburah e Chesed equilibram uma à outra e Chesed, a Sephira da misericórdia e bondade, deve ser balanceada com a severidade e o mal potencial em Geburah. Em especulações alternativas, o mal é radicalizado e talvez ainda preencha o propósito como Inferno ou punição, mas será, todavia, conquistado nos últimos dias, quando o bem triunfar.
Texto retirado do livro: Qabalah, Qliphoth e Magia Goética - Thomas Karlsson, 2018.



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