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A conturbada história de Baphomet

  • Foto do escritor: VOBISCUM
    VOBISCUM
  • 11 de mar. de 2020
  • 11 min de leitura

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Baphomet, Bafomete ou ainda Bafomé (pronúncia em inglês: [ˈbæfoʊmɛt]; do latim medieval Baphometh, baffometi, ocitano Bafomé) é uma criatura simbólica que apareceu como um ídolo pagão em transcrições do julgamento da inquisição dos Cavaleiros Templários no início do século XIV. O nome apareceu pela primeira vez na consciência popular inglesa , no século XIX. No que respeita a sua imagem com cabeça de animal com cornos, ela foi criada por Éliphas Lévi, um ocultista francês, que o publicou no seu livro "Dogma e Ritual de Alta Magia".


A História de Baphomet


A história em torno do Baphomet foi intimamente relacionada com a da Ordem dos Templários, pelo Rei Filipe IV de França e com apoio do Papa Clemente V, ambos com o intuito de desmoralizar a Ordem, pois o primeiro era seu grande devedor e o segundo queria revogar o tratado que isentava os Cavaleiros Templários de pagar taxas à Igreja Católica.


A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, também conhecida como Ordem do Templo, foi fundada no ano de 1118. O objetivo dos cavaleiros templários era supostamente proteger os peregrinos em seu caminho para a Terra Santa. Eles receberam como área para sua sede o território que corresponde ao Templo de Salomão, em Jerusalém, e daí a origem do nome da Ordem.


Segundo a história, os Cavaleiros tornaram-se poderosos e ricos, mais que os soberanos da época. Segundo a lenda, eles teriam encontrado no território que receberam documentos e tesouros que os tornaram poderosos. Segundo alguns, eles ficaram com a tutela do Santo Graal dentre outros tesouros da tradição cristã.


Em 13 de outubro de 1307, sob as ordens de Felipe, o Belo e com a conivência do Papa Clemente V, os cavaleiros foram presos, torturados e condenados à fogueira, acusados de diversas heresias.


O rei francês, nessa altura, acusava os templários de adorarem o diabo na figura que na realidade se chamava Baphomet. O Baphomet tornou-se o bode expiatório da condenação da Ordem pela Igreja Católica e da morte de templários na fogueira que se seguiu a isto.


Etimologia


Não existe consenso quanto à etimologia da palavra "Baphomet". Segundo o arqueólogo austríaco Joseph von Hammer-Purgstall, um não simpatizante do ideal templário e que em 1816 escrevera um tratado intitulado Mysterium Baphometis Revelatum, sobre os alegados mistérios dos Cavaleiros e do Baphomet, a expressão proviria da união de dois vocábulos gregos, "Baphe" e "Metis", significando "Batismo de Sabedoria". A partir desta conjectura, Von Hammer especula a respeito da possibilidade da existência de rituais de iniciação, onde haveria a admissão aos mistérios e aos segredos cultuados pela Ordem do Templo.


A origem da palavra Baphomet ficou perdida, e muitas especulações podem ser feitas, desde uma composição do nome de três deuses: Baph, que seria ligado ao deus Baal; Pho, que derivaria do deus Moloch; e Met, advindo de um deus dos egípcios, Seti. Outra teoria nos leva a uma corruptela de Muhammad (Maomé - o nome do profeta do Islã), até Baph+Metis do grego "Batismo de Sabedoria".


A palavra "Baphomet" em hebraico é como segue: Beth-Pe-Vav-Mem-Taf. Aplicando-se a cifra Atbash (método de codificação usado pelos Cabalistas judeus), obtém-se Shin-Vav-Pe-Yod-Aleph, que soletra-se Sophia, palavra grega para "sabedoria".


Todavia ainda existem fontes que afirmam uma outra origem do termo. Segundo alguns, o nome veio da expressão grega Baph-Metra (mãe-Metra ou Meter-submersa; Baph-em sangue. Ou seja, a Mãe de Sangue, ou a Mãe Sinistra). Grande parte dos historiadores que afirmam essa versão se baseiam no fato que o culto à cabeça está relacionada com conjurações de entidades femininas.


Teorizou-se simbolicamente também que o Baphomet é um ícone fálico, já que em uma de suas míticas representações há a presença literal do falo devidamente inserido em um vaso (símbolo claro da vulva).


O Baphomet por Eliphas Levi


A figura atual de Baphomet foi criada pelo famoso ocultista Eliphas Levi. Levi lista as mais frequentes representações do Baphomet: na classificação e explicação das gravuras de seu livro Dogma e Ritual da Alta Magia, Eliphas Levi classifica a imagem de Baphomet como a figura panteística e mágica do absoluto.


  • O facho representa a inteligência equilibrante do ternário.

  • A cabeça de bode, reunindo caracteres de cão, touro e burro, representa a responsabilidade apenas da matéria e a expiação corporal dos pecados.

  • As mãos humanas mostram a santidade do trabalho e fazem o sinal da iniciação esotérica a indicar o antigo aforismo de Hermes Trismegisto (em uma posição muito semelhante a representações de Shiva na Índia): "o que está em cima é igual ao que está embaixo". O sinal com as mãos também vem a recomendar aos iniciados nas artes ocultas os mistérios. Pode também ser interpretado em seu aspecto metafísico, onde pode representar o espírito divino que "ligou o Céu e a Terra", tema recorrente na literatura esotérica.

  • Os crescentes lunares presentes na figura indicam as relações entre o bem e o mal, da misericórdia e da justiça.

  • Possuindo seios, o bode representa o papel de trazer à Humanidade os sinais da maternidade e do trabalho, os quais são signos redentores.

  • O pênis é metaforicamente representado por um Caduceu. No budismo tântrico este é o símbolo de ascensão da energia da deusa Kundalini. Em forma de serpente ela está enrolada e oculta na base da coluna de todo ser humano. Ao atingir a plenitude desta força, o ser alcança o êxtase da iluminação (o nirvana). Este tipo de simbologia aparece com frequência na alquimia (o coito do rei e da rainha), com a qual o ocultismo tem relação.

  • Na frente e embaixo do facho encontra-se o signo do microcosmo a representar simbolicamente a inteligência humana.

  • Colocado abaixo do facho o símbolo faz da chama dele uma imagem da revelação divina. Baphomet deve estar assentado ou em um cubo e tendo como estrado uma bola apenas ou uma bola e um escabelo triangular.

  • A figura pode ser colorida no ventre (verde), no semicírculo (azul) e nas penas (diversas cores).


O Baphomet por Aleister Crowley


O Baphomet de Levi tornou-se uma figura importante dentro da cosmologia da Thelema, o sistema místico estabelecida por Aleister Crowley no início do século XX. O credo da Igreja Gnóstica Católica é recitado pela congregação na Missa Gnóstica, com a seguinte frase: "E eu creio na Serpente e no Leão, Mistério dos Mistérios, em seu nome BAPHOMET".


Em Magick (Book 4), Crowley afirmou que Baphomet era um andrógino divino e o hieróglifo da perfeição arcana: Visto como o que reflete o que ocorre acima de modo como reflete abaixo.


"O Diabo não existe. É um nome falso inventado (...) implicar uma unidade na sua confusão ignorante de dispersões. Um diabo que tinha a unidade seria um Deus ... 'O Diabo' é historicamente o Deus de todos os povos inimigos... Esta serpente, Satanás, não é o inimigo do homem, mas o que fez de nossa raça humana "Deuses", conhecendo a si mesmo "o bem e o mal"; Ele é encontrado no Livro de Thoth, e Seu emblema é BAPHOMET, o Andrógino que é o hieróglifo da perfeição arcana... Ele é, portanto, a Vida e o Amor. Mas, além disso, sua carta é ayin, o Olho, de modo que ele é Luz; e a sua imagem Zodiacal é Capricórnio, cuja cabra saltando é atributo da liberdade".


Para Crowley, Baphomet é mais um representante da natureza espiritual dos espermatozóides, enquanto também é simbólico da "criança mágica", produzido como resultado da magia sexual. Como tal representa a união dos opostos, porque misticamente é personificado em Caos e Babalon combinados e biologicamente manifestados com o esperma e o óvulo unidos no zigoto.


As associações de Baphomet com o Diabo


Se o ídolo Baphomet não tinha nenhuma ligação com o Diabo então por qual motivo se tornou um símbolo, digamos, do mal?


Em primeira parte essa associação se deve pela condenação dos templários. Sendo assim, todo o conhecimento místico sobre tal ídolo se perdeu no véu negro do controle da Igreja Católica que provocou a treva intelectual da Idade Média e se tornou parte das ciências ocultas. Tais ciências viraram sinônimo de heresia e anti-cristianismo e daí vem o caráter maligno que foi associado todo conhecimento esotérico oculto.


Neste contexto, grandes obras intelectuais se perderam e os estudiosos destas ciências eram considerados adoradores do Diabo, hereges e associados a forças negras. Sendo assim, um símbolo como o Baphomet logo foi relacionado à bruxaria, paganismo e satanismo, tendo seu real significado deturpado ao longo do tempo.


Como, para a Igreja Medieval, pagãos, bruxos e ocultistas eram todos adoradores do demônio, nosso símbolo herdou esta ligação com o Diabo, assim como diversos outros que nada tinham de negativos.


A relação do símbolo Baphomet com a bruxaria nasceu durante a Renascença, e para a Inquisição o Baphomet era Satanás encarnado, mesmo a Bíblia não descrevendo-o com nenhum atributo físico, a Igreja Cristã decidiu que sua forma física era a mesma do deus pagão Pã (também conhecido como Fauno na mitologia grega ou Cernunnos na mitologia Celta), com cabeça de cabra e chifres.


Por este motivo, até os dias de hoje, Satanás é representado desta forma.


No Paganismo, este Deus com chifres é referenciado como o Senhor do Reino Animal, dos Bosques e dos Campos, dos Rebanhos e dos Pastores e é descrito nas mais variadas formas: O Deus com Chifres de Veado pertence a religiões antigas e representa a força primordial, sendo um símbolo de fertilidade, virilidade e de tudo que é selvagem e não pode ser domesticado.


No decorrer do tempo a imagem deste ídolo incluiu um Deus com cabeça de touro (quando os homens evoluíram para pastores nômades) e o Deus com cabeça de bode (que nasceu quando os homens se agruparam em comunidades agricultoras).


Segundo a mitologia esta deidade habitava a floresta e morava em grutas. Vagava pelas montanhas caçando ou conduzindo a dança das ninfas. Como o nome Pã significa tudo, ele passou a ser considerado símbolo do universo e personificação da natureza, e mais tarde, enfim, foi olhado como representante de todos os deuses e do próprio paganismo.


O Deus chifrudo era o pacto entre os caçadores humanos e as presas animais, ele provia carne para o humanos e renovava a vida dos animais.


Em contrapartida, os humanos praticavam certas cerimônias mágicas que retornavam energias vitais para a floresta. É muito provável que o Baphomet Templário representasse este Deus pagão e que os cavaleiros da ordem praticassem o misterioso e secreto ritual do caçador.


Nas antigas escolas de mistérios da Europa, figuras monstruosas eram mostradas de fora dos templos e perto de bosques sagrados com o intuito de assustar qualquer um que fosse supersticioso ao ponto de não olhar através da imagem e encarar seu real simbolismo. Os que eram capazes de tal interpretação eram aceitos e podiam ter acesso aos mistérios internos que eram ensinados nestas escolas. Por isso tudo, o Baphomet ainda é muito associado como a deidade cultuada no Sabá das bruxas na Idade Média e com toda a bruxaria até os dias modernos.


Após a publicação da obra de Eliphas Levi onde nasceu a imagem mais conhecida do Baphomet, Leo Taxil, um conhecido opositor do catolicismo e anti-maçom que incorporou o Bode de Mendes em dois tratados contra a maçonaria onde publica sua crença pessoal da associação desta sociedade secreta com a adoração ao Diabo.


Num destes tratados mostrou que os maçons cultuavam um Baphomet enquanto uma mulher decapitada estaria na frente do ídolo. Em outro artigo, o mesmo autor disse que o Baphomet encarnaria como um maçom, para seduzir as mulheres puras da França.


A mais forte associação do Baphomet de Levi ao Diabo, até a formalização de um símbolo satânico homônimo popularizado por Lavey, data de 1909 e veio do Tarot de Waite-Smith que era um conjunto de cartas no estilo tradicional do tarô cuja carta Levi’s Baphomet está ligada ao Diabo. A figura na carta se assemelha muito à esfinge de Levi, porém duas diferenças são notórias e muda todo o simbolismo e, consequentemente, já não é o mesmo Baphomet. Na imagem do tarô os pés possuem garras e não são rachados e as pernas são cobertas de pelos e não pela espécie de pano como no desenho do Bode de Mendes.


O Baphomet de Eliphas Levi e a estátua de George Washington.


Alguns pesquisadores enxergaram similaridades entre a figura de Eliphas Levi e a estátua de George Washington, figura histórica norte-americana e primeiro presidente daquela nação, presente no Smithsonian Museum.


Entretanto, é de conhecimento trivial que Washington era um maçom altamente graduado e as ligações históricas entre os Cavaleiros Templários com a Maçonaria já não são mais segredo. As semelhanças seriam notadas numa primeira análise: a pose, o busto nu, as pernas cobertas e os braços de Washington que tem as mesmas direções dos braços do Bode de Mendes reforçam a teoria.


Mas, existem mais semelhanças do monumento à Washington com a estátua de Zeus no Olimpo, uma das sete maravilhas do mundo antigo. O autor David Ickes até cita que a estátua de George Washington seria uma “reencarnação” em escultura do Baphomet de Levi. Desafortunadamente, nosso autor não se ateve ao fato de que a estátua de Washington foi concebida alguns anos antes da publicação em que Eliphas Levi mostrou sua imagem do Baphomet.


Então, podemos concluir que a inspiração para tal estátua se encontra no colossal monumento ao Deus grego. Reza a lenda que a cidade de Washington, capital dos EUA, seria construída sobre um alicerce que formaria um pentagrama invertido com um bode, denominado Baphomet, que seria o símbolo de Satanás. Porém, este símbolo só foi associado e devidamente creditado ao satanismo após a criação da Igreja de Satã.


O Baphomet no Satanismo


Pelo desenvolvimento acima, vimos que o Baphomet teve seu real simbolismo deturpado e se tornou referência de heresia e a imagem de Eliphas Levi foi tomada como a representação do diabo. Tendo isso em mente, quais seriam as reais ligações do Baphomet com o satanismo?


Vamos tentar limpar um pouco o caminho e tentar entender melhor estas ligações, sem nos ater a detalhes de origens e divisões do Satanismo.


Até a Igreja de Satã ser criada em 1966, na literatura e nas ilustrações, o satanismo era denotado por cruzes invertidas (outro simbolo que seria adotado mais adiante) ou paródias profanas das artes sagradas. Ainda era possível encontrar cabras, diabretes ou demônios para tal menção e cada um destes elementos era acompanhado de um signo, que era a marca daquela entidade demoníaca.


O símbolo com a cabeça de bode emoldurada por um pentagrama invertido circundado por letras hebraicas soletrando Leviatã começou a ser relacionada no consciente público ao satanismo após a criação da Church Of Satan em 1966, mas apareceu pela primeira vez em um livro franco-maçom em 1931.


Entretanto, este seria apenas um desenho que não teria ligação com o símbolo satânico estampado na Bíblia Satânica, a menos da imagem, os dois símbolos significavam coisas diferentes.


O fundador da Church of Satan, Anton LaVey, teve contato como o bode em um pentagrama circundado duplamente tendo a palavra Leviatã entre os círculos numa obra de magia de autoria de Maurice Bessy’s datada de 1964 e este símbolo era referenciado como o signo de Baphomet. Quando LaVey foi fundar sua igreja percebeu que neste símbolo esta toda a filosofia de sua doutrina e encorporava todo o alicerce de sua religião. Nascia o satânico Baphomet.


Ao contrário do que afirmam muitas opiniões imparciais, LaVey nunca reclamou a criação do símbolo para si, mas o incorporou totalmente à sua igreja. Ele estava nos cartões dos membros da sua religião ou entalhados por artesãos.


Porém, até que a Bíblia Satânica estivesse totalmente escrita e publicada, haviam variações do Baphomet Satânico que decorriam das habilidades dos artistas que as representavam para a recém criada igreja. Este problema só foi completamente sanado com a publicação da obra escrita de Anton LaVey em 1969.


O Baphomet satânico oficial, obedece certas regras geométricas e o bode é desenhado com mais atenção aos olhos, e os caracteres hebreus são desenhados mais distorcidos como serpentes. Esta arte gráfica final tem direitos autorais reservados à Church Of Satan.


Sendo assim, podemos concluir que o Baphomet assumido por tal igreja não tem nenhuma ligação com o Baphomet templário.


Considerações finais


Nem é necessário dizer que a imagem cunhada por Levi se tornou famosa no meio pop e aqui não estou incluindo aqueles videozinhos ridículos que versam sobre mensagens subliminares que nada mais querem senão assustar mentes despreparadas e inocentes.


Na música, principalmente no Heavy Metal, a figura do Baphomet, seja o de Levi ou ou satânico, são costumeiras nas capas dos discos e nas músicas. Por exemplo, o grupo britânico Angel Witch utilizou o Baphomet de Eliphas Levi como um símbolo do grupo. Em especial, as bandas de Black Metal, com motivações anti-cristãs, se utilizam largamente deste símbolo.


Na sétima arte, é comum encontrar referências ao símbolo nas fileiras das produções de terror e nas artes plásticas, a figura se tornou comum em pinturas de grandes nomes como H. R. Giger.


Creio que a maior importância desta postagem é a desmistificação de um dos símbolos mais antigos da humanidade, e esclarecer as reais interpretações da imagem que ficou relacionada como a figura do Diabo através dos anos por detratores das culturas pagãs, e ainda, evidenciar que o símbolo satânico denominado Baphomet e registrado com direitos autoriais pela Igreja de Satã não tem nenhuma ligação com o ídolo cultuado pelos Cavaleiros Templários.


Na verdade os dois símbolos são antagônicos e já está na hora de abrirmos o véu negro esticados por uma Igreja medieval que só obscurecem a evolução intelectual, mística e espiritual da humanidade.

 
 
 

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✠In Nomine Dei Nostri Satanas Luciferi Excelsi✠

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